Atividade dentro de programação sobre o combate à violência contra crianças e adolescentes aconteceu em colégio militar de Paranã (TO). Vídeo viralizou nas redes sociais; policiais e diretor foram afastados. Crianças cantaram palavras de ódio guiadas por PM em escola do Tocantins
“Crianças não são soldados, escola não é quartel’”. A fala é do doutor em educação José Lauro Martins, sobre o vídeo que viralizou nas redes, nesta semana, mostrando estudantes cantando frases de ódio em uma atividade extracurricular em um colégio militar em Paranã, no sudeste do estado.
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A ação gerou questionamentos com relação à atuação da Polícia Militar (PM) dentro das escolas. Pais e servidores reclamaram da atividade, que foi realizada dentro de uma programação que aborda o combate à violência contra crianças e adolescentes.
Nesta sexta-feira (22), o diretor da escola e os PMs envolvidos no caso foram afastados por determinação do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), após a repercussão das imagens.
Estudantes em praça na frente de escola que promoveu marcha com palavras de ódio
Reprodução/Redes Sociais
O professor doutor em educação José Lauro Martins comentou que durante a atividade foram usadas palavras que não são apropriadas para a idade dos alunos e para o ambiente. A escola atende 400 alunos que têm entre 11 e 15 anos de idade.
“Elas estão sendo submetidas a um processo de adestramento, propriamente dito, e não de educação. Além de tudo, essas crianças estão repetindo um palavreado que não é apropriado para a escola, muito menos para a idade deles”, afirmou.
O caso aconteceu no Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, na manhã de quinta-feira (21). Durante a marcha, os estudantes, guiados por um policial militar, cantavam os seguintes versos:
“Tu vai lembrar de mim
Sou taticano maldito
E vou pegar você
E se eu não te matar
Eu vou te prender
Vou invadir sua mente
Não vou deixar tu dormir
E nas infiltrações você vai lembrar de mim”
“Essas crianças, elas estão sendo, de alguma forma, vitimadas por algumas pessoas despreparadas para o processo educativo, e elas estão repetindo ali palavras que conduzam ao sentimento de ódio, de apologia, violência e assim por diante. Essas crianças não são soldados, a escola não é um quartel, está tudo fora de lugar nesta imagem ou nesse recorte dessa escola”, completou o professor José Lauro.
Em entrevista à TV Anhanguera, a mãe de uma das crianças que participou da marcha, que não quis se identificar, se indignou com a proposta.
“No mundo que nós estamos vivendo hoje, já oferece coisas de violência. De maldade. Então, quando a gente leva os filhos da gente para a escola acredita que vai ter coisas boas, educação boa, disciplina boa. Eu não concordei com o ato da música, a letra da música”, comentou a mãe.
Estudantes durante atividade em que foram cantadas palavras de ódio
Reprodução/Redes Sociais
Uma servidora do colégio militar que não quis se identificar comentou que os alunos foram chamados de sala em sala e seguiram para o palestra referente à ação da Operação Hagnos, realizada por forças de segurança.
“A Polícia Tática chegou […] e começou a fazer exercício físico com os meninos na porta da escola e depois começaram a falar essas frases de ordem, porque isso não é uma música, não é uma canção, são frases de ordem e são frases violentas, que falam em matar”, destacou.
Convite divulgado para evento em colégio militar de Paranã
Divulgação
Policiais e diretor foram afastados
O afastamento do diretor e dos militares envolvidos na marcha com os estudantes foi determinado pelo governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), nesta sexta (22).
Em nota enviada pelo Governo do Estado, o governador também cobrou que o caso seja apurado e que todas as medidas cabíveis sejam tomadas, conforme os trâmites legais e disciplinares da instituição.
A Polícia Militar do Tocantins informou que está apurando a conduta dos policiais militares envolvidos e que serão adotadas as medidas cabíveis.
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc), determinou a instauração de uma comissão de apuração “para investigar a situação e garantir que tal ocorrência não se repita”. Conforme a Seduc, o episódio foi um caso isolado e não reflete a realidade das escolas cívico-militares (veja notas na íntegra abaixo).
Íntegra do posicionamento do Estado
O Governo do Tocantins repudia com veemência o ocorrido nesta quinta-feira, 21, no Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, no município de Paranã, que está em total desacordo com os valores de respeito e cidadania que devem ser cultivados no ambiente escolar.
Tão logo soube do caso, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, determinou à Polícia Militar (PM/TO) o imediato afastamento do diretor da instituição escolar e demais militares envolvidos das atividades escolares, além de cobrar que o caso seja apurado e que todas as medidas cabíveis sejam tomadas, conforme os trâmites legais e disciplinares da instituição. Em relação à Secretaria de Estado da Educação (Seduc), foi determinado a instauração de uma comissão de apuração, para investigar a situação e garantir que tal ocorrência não se repita.
É importante ressaltar que este episódio é um caso isolado e não reflete a realidade das Escolas Cívico-Militares, que desempenham papel fundamental na formação educacional no Estado do Tocantins. Essas instituições são comprometidas com a educação de qualidade, baseada no respeito, na ética e no desenvolvimento integral dos estudantes.
O Governo do Tocantins reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente educacional saudável e seguro, onde prevaleçam os princípios de disciplina, cidadania e respeito mútuo.
Íntegra da nota da Polícia Militar
A Polícia Militar do Estado do Tocantins informa que, nesta quinta-feira, 21, tomou conhecimento, por meio de vídeos divulgados nas redes sociais, de uma atividade extracurricular realizada no Colégio Militar do Estado do Tocantins – Escola Estadual Euclides Bezerra Gerais, no município de Paranã-TO.
A Instituição esclarece que a atividade em questão se tratou de uma ação pontual, que não faz parte da rotina diária da unidade escolar.
A Polícia Militar já está apurando os fatos com rigor, avaliando a conduta dos policiais militares envolvidos, e informa que serão adotadas as medidas cabíveis, em conformidade com os procedimentos legais e disciplinares previstos no âmbito institucional. Um procedimento investigativo preliminar está em curso para garantir a análise criteriosa da situação.
Após determinação do Governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, a Polícia Militar afastou o Diretor da instituição escolar e demais militares envolvidos na atividade extracurricular.
A Polícia Militar do Estado do Tocantins reafirma seu compromisso em promover a segurança, a cidadania e a formação de valores éticos e morais. Por meio de programas como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e projetos sociais com participação de jovens, a Instituição atua continuamente na conscientização de crianças e adolescentes sobre a importância do respeito, da disciplina e da responsabilidade cidadã.
Nos colégios militares, nosso principal objetivo é oferecer um ambiente educacional voltado para a construção de cidadãos íntegros, fundamentados em princípios de respeito, solidariedade e disciplina. Tais valores são essenciais para o aprendizado e para a convivência em sociedade.
Por fim, a Polícia Militar destaca que não compactua com qualquer ato que contrarie os valores institucionais. Condutas que não estejam alinhadas aos princípios éticos e legais da corporação serão analisadas e tratadas com a seriedade que a situação requer.
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Fonte: G1 Tocantins